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Gestão pública estratégica baseada em dados: exemplos no MDB
09/06/2025
Por Guto Scherer
Secretário Executivo da FUG
A gestão baseada em evidências é uma abordagem que fundamenta decisões em dados, pesquisas e informações concretas, deixando de lado achismos e vieses. No setor público, isso significa utilizar indicadores e análises para orientar políticas que realmente funcionam, focando nas necessidades reais da população. A seguir, apresentamos exemplos de mandatários do MDB (Movimento Democrático Brasileiro) que aplicaram análise de dados em áreas como educação, saúde e assistência social para embasar decisões estratégicas – resultando em políticas eficazes, melhoria de serviços e otimização de recursos. Em seguida, discutimos a importância da mensuração e análise de dados na alta gestão, destacando a relevância da gestão estratégica orientada por evidências.
Boa Vista (RR): dados orientando políticas de Educação e Primeira Infância
Um caso emblemático é Boa Vista, capital de Roraima, sob a gestão da então prefeita Teresa Surita (MDB). Reconhecida como a “capital da primeira infância” , Boa Vista investiu fortemente em políticas para crianças e famílias, integrando educação, saúde e assistência social. Logo em seu primeiro mandato, Teresa usou dados de criminalidade juvenil para direcionar ações: criou o Projeto Crescer para jovens em situação de risco, reduzindo em mais de 70% as ocorrências policiais envolvendo jovens. Essa queda expressiva na criminalidade juvenil indicou que a intervenção baseada em evidências estava funcionando.
Em 2013, de volta à prefeitura, Teresa priorizou a primeira infância. Nasceu então o programa Família que Acolhe, integrando vários serviços municipais com base em estudos que mostram a importância dos primeiros anos de vida. O programa uniu atendimento socioassistencial, ampliação da rede de ensino e integração com a saúde, incluindo acompanhamento pré-natal e melhoria de infraestrutura urbana para crianças. Essa abordagem intersetorial, sustentada por dados sobre desenvolvimento infantil, beneficiou mais de 13 mil famílias desde sua implantação. Os resultados notáveis – como crianças melhor preparadas para a escola e famílias assistidas em múltiplas frentes – transformaram Boa Vista em referência nacional, servindo de modelo para o programa federal Criança Feliz, lançado em 2017. Inclusive, indicadores externos confirmam os avanços: Boa Vista ficou acima da média nacional no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), evidenciando a melhoria na qualidade do ensino municipal.
Nível Federal: auditoria de Assistência Social baseada em dados
No âmbito federal, um exemplo marcante ocorreu durante o governo do presidente Michel Temer (MDB), por meio ministério do Desenvolvimento Social. A gestão decidiu aplicar uma auditoria baseada em dados no principal programa de assistência social do país, o Bolsa Família. O objetivo era aprimorar a focalização do programa, garantindo que os benefícios chegassem a quem realmente precisava e eliminando fraudes ou pagamentos indevidos. Para isso, foi realizado um cruzamento de informações em seis grandes bases de dados oficiais – incluindo o Cadastro Único, registros de emprego (RAIS/Caged), óbitos (Sisobi), previdência (INSS), folha de servidores (Siape) e empresas (CNPJ) – a fim de identificar inconsistências. Adicionalmente, dados do Tribunal Superior Eleitoral foram usados para flagrar doadores de campanhas eleitorais que constavam como beneficiários, resultando no bloqueio de 13 mil benefícios por suspeita de renda incompatível.
Os resultados desse pente-fino orientado por dados foram significativos. Em poucos meses, foram detectadas irregularidades em 1,136 milhão de benefícios do Bolsa Família, dos quais 469 mil foram cancelados e 654 mil bloqueados preventivamente. Isso representou uma enorme otimização de recursos públicos: as exclusões geraram uma economia imediata estimada em R$ 1,024 bilhão anual, e os bloqueios (caso confirmadas as irregularidades) poderiam economizar outros R$ 1,428 bilhão. Importante destacar que o intuito não era simplesmente cortar gastos, mas realocar recursos de forma mais eficiente. A economia obtida seriam reinvestida na área social, possibilitando a entrada de novas famílias elegíveis no Bolsa Família. Ou seja, a análise criteriosa de dados permitiu melhorar a focalização do programa – ampliando sua eficácia e justiça – sem reduzir seu orçamento.
Além da auditoria, o governo Temer lançou o programa Criança Feliz focado no desenvolvimento de crianças de 0 a 3 anos em famílias vulneráveis. A concepção do programa se apoiou em evidências científicas da neurociência e economia, que mostram alto retorno de investimentos na primeira infância. Por meio de visitas domiciliares semanais, profissionais orientam os pais sobre estímulos adequados aos bebês, visando melhorar indicadores futuros em educação, saúde e renda. Em poucos meses, todos os estados e centenas de municípios aderiram à iniciativa. Trata-se de política pública baseada em evidências científicas, integrando saúde, educação e assistência social, com potencial de quebrar o ciclo intergeracional da pobreza – um complemento inovador ao Bolsa Família. Assim, no nível federal, o MDB teve protagonismo em ações estratégicas guiadas por dados: tanto no aperfeiçoamento de cadastros sociais quanto na implementação de programas inovadores embasados em estudos.
São José do Rio Preto (SP): indicadores guiando saúde e sustentabilidade urbana
Em nível municipal, outro exemplo vem de São José do Rio Preto (SP), istrada pelo prefeito Edinho Araújo (MDB). A cidade destacou-se nacionalmente ao aparecer como 6º município mais sustentável do Brasil no Ranking Cidades Sustentáveis de 2023. Esse ranking, elaborado pela consultoria Bright Cities, é todo baseado em dados e indicadores objetivos sobre diversos aspectos urbanos. Foram avaliados indicadores de prosperidade econômica, qualidade da gestão, bem-estar social, segurança pública, infraestrutura e serviços básicos. Essa classificação de Rio Preto reflete políticas públicas eficazes em múltiplas áreas, muitas delas ligadas à saúde e qualidade de vida, orientadas por medições de desempenho.
Um dos destaques de Rio Preto é o saneamento básico. De acordo com o Instituto Trata Brasil, o município possui o melhor saneamento do país, com praticamente 100% do esgoto tratado e ampla oferta de água potável. Esses números explicam a boa posição nos rankings e resultam de decisões de investimento estratégico baseadas em indicadores de saneamento – setor intimamente ligado à saúde pública preventiva. Além disso, o estudo considerou dados como o número de leitos hospitalares e médicos por habitante, taxas de mortalidade no trânsito, o à internet, consumo de energia, emissões ambientais, entre outros. O desempenho destacado de Rio Preto nesses quesitos sugere uma gestão municipal que monitora tais métricas e implementa melhorias contínuas. Não por acaso, a cidade também figura entre as três melhores para se viver no Brasil segundo a consultoria Macroplan, reforçando o impacto positivo de uma istração orientada por resultados mensuráveis.
O prefeito Edinho Araújo atribui esse sucesso à cultura de aperfeiçoamento contínuo na istração, com projetos consistentes de longo prazo que transcendem mandatos . Ele ressalta que a conquista em rankings nacionais é prova de que a cidade está no rumo certo, “trabalhando muito e inovando sempre” . Em outras palavras, a gestão municipal utiliza dados de desempenho como : celebra os avanços (que elevam a posição em rankings) e identifica áreas a melhorar, mantendo um ciclo de inovação e aprimoramento. Esse exemplo evidencia como, na prática, medir resultados em saúde, meio ambiente e serviços urbanos guia decisões estratégicas – seja para direcionar recursos onde há carências, seja para replicar iniciativas bem-sucedidas – elevando a qualidade de vida da população.
Importância da mensuração e análise de dados na alta gestão
Os casos acima reforçam a relevância da gestão baseada em evidências para uma istração pública estratégica e bem-sucedida. Em nível de alta gestão (governadores, prefeitos e ministros), tomar decisões informadas por dados traz diversos benefícios:
- Políticas mais eficazes: Quando gestores se apoiam em dados e evidências, conseguem identificar o que funciona e por que funciona em determinadas políticas. Isso aumenta a chance de implementar programas com impactos positivos reais, em vez de iniciativas baseadas apenas em intuitos políticos ou ideológicos.
- Otimização de recursos: A análise de dados ajuda a direcionar recursos escassos para onde terão maior efeito. A auditoria do Bolsa Família ilustra bem isso – ao cruzar bases de dados e eliminar beneficiários irregulares, liberaram-se recursos para ampliar o atendimento a famílias realmente necessitadas, reduzindo desperdícios e aumentando o impacto social de cada real investido.
- Melhoria contínua e inovação: A mensuração constante de desempenho cria um ciclo virtuoso de gestão. Monitorar indicadores e avaliar resultados permite correções de rota em tempo hábil e aprendizado com a experiência. Gestores podem experimentar projetos piloto, medir os efeitos e então escalar políticas bem-sucedidas ou replanejar aquelas que não atingem as metas.
- Transparência e ability: istrar com base em métricas e divulgá-las aumenta a transparência perante a sociedade. Metas claras e indicadores publicados permitem que a população acompanhe o desempenho do governo e cobre resultados. Isso não só reforça a confiança, mas também pressiona os gestores a se manterem focados em resultados concretos.
O futuro da gestão baseada em dados e os próximos desafios
Adotar uma gestão orientada por dados já não é mais um diferencial competitivo – é um requisito fundamental para eficiência e inovação, tanto no setor público quanto no privado. Como vimos, mensurar, analisar e agir com base em informações concretas permite otimizar recursos, reduzir erros e alcançar melhores resultados. Entretanto, essa transição não acontece sem desafios.
No setor público, especialmente, a implementação de uma gestão baseada em dados enfrenta barreiras estruturais e culturais. A falta de infraestrutura tecnológica adequada, a fragmentação de bancos de dados, a resistência à mudança por parte dos gestores e servidores e a necessidade de capacitação são obstáculos recorrentes. Como garantir que os dados coletados sejam confiáveis, íveis e usados corretamente na tomada de decisão? Como superar resistências internas e construir uma cultura organizacional que valorize a análise de dados? Esses são pontos cruciais que precisam ser enfrentados para que a gestão pública avance rumo a maior eficiência e transparência.
Além disso, com os avanços recentes na inteligência artificial (IA), novas possibilidades surgem para potencializar a análise de dados e a automação de processos decisórios. Ferramentas de IA já são capazes de identificar padrões complexos, prever cenários e otimizar políticas públicas, proporcionando um e estratégico inédito para os gestores. No entanto, a implementação dessas tecnologias exige planejamento, regulamentação e, acima de tudo, profissionais capacitados para interpretar e aplicar os insights gerados.
Diante desse cenário, fica claro que o futuro da gestão baseada em dados vai além da coleta e análise tradicional. No próximo artigo, exploraremos mais profundamente os desafios práticos dessa transformação digital na istração pública, a necessidade de capacitação dos servidores e como a inteligência artificial pode ser uma aliada essencial para decisões mais rápidas e precisas.
O caminho para uma gestão eficiente e inovadora a pela superação dessas barreiras e pela adoção de uma mentalidade analítica e orientada a resultados. Se o presente já exige decisões baseadas em dados, o futuro demandará gestores ainda mais preparados para integrar tecnologia, inteligência artificial e análise estratégica em sua atuação. Afinal, gestão sem dados é aposta; gestão com dados é estratégia.
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